segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Olhos e estrelas


Era só uma menina com poucos anos de idade, que não significava tanto em sua vida naquele momento.
Ela tinha sonhos, quando de olhos abertos, debruçava no muro de casa, contanto estrelas. E imaginando como seria a vida, dali alguns anos.
Passava a sua mão tão pequena no muro sem reboco, daquela mesma casa vazia...
Já podia perceber que seu futuro seria tão solitário como das estrelas, que entre elas faziam duetos, mas quando olhava pro céu, só sentia melancolia.
Era tão pequena e já capaz de sentir o peso da vida, que em seus ombros caiam, mas assim mesmo sonhava, com coisas pequenas, mas que para ela era tão grande, tão maior que seu próprio corpo, ali franzido de medo.
Depois que crescera Gabriela não era diferente daquela menina de mãos pequenas que um dia sonhou com o futuro inesperado.
Era a mesma insegurança de quem nunca conheceu de fato a vida. Era a menina do medo, assim descrevia quando falava em solidão na solidão de si mesma.

Adormeci em mim

Os meus olhos fecham ao recordar o que fomos, agora estrelas que apagam, eu não sinto mais sono, e mesmo assim fecho os olhos.
Tenho saudade de um amontoado de coisas que já não me pertencem mais. Não sei o que houve, onde foi parar nossas coisas, em cima da cama, da mesa, do chão, vazio de nossos corpos. Tão solitária a TV, luzes apagadas, a casa vazia, em um final de semana escuro sem sol. Vento na janela, por do sol que não mais existiria em torno dela...
Tenho agora a solidão, um desprezo total por mim, que não pode te manter aqui.
Só há uma noite fria e escura, sem estrelas ou luzes na sala...
Olhos cansados de procurar aquilo que falta, na solidão da noite por fim, adormeço...
Ah... Se eu tivesse a chance de te ter novamente, te acolheria em meus abraços, e te sentiria como nunca antes, de forma que meus braços tomassem a forma de seu corpo, para não mais te sentir longe.

domingo, 10 de outubro de 2010

CLARICE LISPECTOR - SINTO SAUDADES

Vazia

O que você me deixou, gosto de maça e cheiro de flor,
O que você me deixou, a saudade que aperta, no peito só resta à dor que ficou
O que você me deixou, amor em migalhas, coração em pedaços incertezas da carne...
Deixou-me a tristeza, levou-me a esperança...
E agora sem alma volto a ser um só...
Ou nada...
Um medo que me arrasta
Sem nada que me refaça
Pedes me entrego...
Abraça-me, te beijo...
E agora por fim, volta a ser tua,
Como tudo que é teu, me entrego por inteira
Sem rumo, identidade, coisa tal que me devolva...
E agora por fim, nada sou, e nada tenho
O que você me deixou...
Tudo que sempre desejei, agora sem ti, nada mais é
Que uma estranha sensação da saudade que tenho
Do amor que partiu, e sem despedida
Levou-me a vida.

Sobre o tempo

Levamos uma vida inteira para saber, que uma vida inteira não é o bastante para curar algumas feridas, para apagar algumas marcas, e reconstituir alguns momentos.
O que é nos dado, será retirado. De uma forma ou de outra, você entende que continuará só... Ainda por muito tempo...
Mesmo assim o crescimento é notável, e a mudança se faz presente à medida que você entende que uma vida nunca é o bastante para nada, nem para ser tudo que se tem para ser, ou que acreditamos que possamos ser.
E mesmo assim erros são constantes, pois grande parte das mudanças parte de nossos erros, e assim vamos acertando e tentando concertar o que foi quebrado. Ou continuamos errando, quebrando e sendo despedaçados com erros alheios.
E a vida segue com caminhos desconhecidos, onde a sempre muitas passagens, cabe somente quem for dono dela, escolher os caminhos. Certos ou errados, não há muito tempo para pensar, e menos ainda para olhar para traz.
Decisões são sempre difíceis, e em algum momento a escolha lhe custará algo precioso, e isso poderá ou não lhe trazer benefícios. E mesmo assim a vida segue... Como uma caixinha de surpresas, ou um campo minado, é preciso saber onde pisa, mas quando não se sabe, a dica é ARRISQUE!
No jogo na vida, não existe um vencedor, a vitória acontece a cada dia, momento, e instante que você é tudo que pode ser da melhor forma possível, e da maneira que acredita ser a melhor.
Não existe um prazo para recomeçar ou terminar... Mesmo assim, uma vida nunca será suficiente...